Lembra de quando você usava internet discada e não conseguia explicar pro seu pai por que precisava ficar mais de 3h online? Lembra de quando você esbanjava seu vocabulário jovem no mIRC e ria da escrita exageradamente formal do seu pai? Lembra de quando (pior ainda) seu pai tentava copiar as suas abreviações maneiras, o que resultava em frases estranhas e forçadas?
(se você não lembra de nada disso, saia daqui, esse post não é pra você)
Lembrando dessas coisas, fiquei chocada ao me dar conta de que: já sou uma quarentona da internet. Já não reino soberana nos ambientes virtuais, não assimilo facilmente as tendências da rede, não ajo com desenvolvura na world wild web. Eu sou meu pai.
Minha epifania começou quando eu conversava via Google Talk com um primo pré-adolescente, tendo sérias dificuldades para articular seus fragmentos de palavras sem pontuação em frases coerentes. Felizmente, ele era perfeitamente capaz de levar aquela conversa adiante sem minha contribuição. Mas quando ele disse "e qui do qui do qui do tragico ne" eu larguei as bets. Deitei o rei. Pendurei a chuteira. Não sei lidar com essa frase e, num mundo justo, nem deveria ser constrangida a lidar com ela. (mais tarde me explicaram que ele se referia a esse vídeo, quem iria imaginar)
A verdade é que eu não tenho mais paciência pra vídeos engraçadinhos de crianças tartamudeando ou travestis tartamudeano ou taumaturgos tartamudeando. Nada contra, acho ótimo, dou risada quando leio os memes no Twitter, mas não me interesso em ir atrás da fonte. Agarro-me às minhas referências antigas com unhas e dentes. Leila Lopes ainda é minha musa; tiopês, pra mim, ainda se escreve em "comofäs". Não espere de mim mais que um sorriso vago quando falar de Luisa Marilac (ou sabe Deus quem é a bola da vez agora).
Outra vibe que eu ainda não peguei é a do Facebook. Fiz meu perfil, aceito uma parte dos pedidos de amizade, mas não domino o protocolo social. Fico vexada de dar Like nas coisas - MAS O QUE É QUE AS PESSOAS VÃO PENSAR? Também num guento esses eventos. Não me entendam mal: não vou odiar ninguém por me convidar pra um evento. Mas quando foi que eles substituíram o convite pessoal? Desde quando é lícito enfiar a pessoa numa página do Facebook e jurar que tá tudo certo?
Claro que há casos e casos: em festas comerciais, marchas (tá usando fazer marcha) ou ocasiões em que o número de pessoas importa mais que a identidade, não tem problema. Mas olha só quando a coisa complica: a Marcinha, aquela menina do seu curso com quem você nunca trocou mais do que 2 palavras, faz um evento pro aniversário dela e convida todos os amigos. Você, por uma artimanha sórdida do destino, está entre os amigos dela. Você não quer ir à festa e sabe que ela não te quer lá, mas é de bom-tom declarar Not Attending? A mim parece uma rejeição muito ostensiva.
Talvez vocês saibam lidar com isso com naturalidade. Eu, nos meus melindres de quarentona, não sei.
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