26 de janeiro de 2013

Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada

Acho que cortar o cabelo é como usar drogas. No início, é algo que você não faz - só apara as pontas, duas vezes por ano e com o cabeleireiro da família. E então você vai para a faculdade, longe do jugo dos pais, e conhece pessoas que já cortam o cabelo há muito tempo. Há aquela pressão social: "tá todo mundo cortando, vamos lá, pega nada". A primeira vez que você experimenta um corte assimétrico, entre surtos de excitação e medo, é só pela farra. 

E você descobre que gosta. E que o novo corte de cabelo não te fez menos decente ou responsável. Quando você volta ao salão, além de acertar as pontas você encurta mais. Percebe que cada mecha que cai ao chão te liberta um pouco.

Você começa a cortar o cabelo a intervalos cada vez menores. Um dia o cabeleireiro sugere "e se a gente passasse a maquininha aqui embaixo...?" e você deixa. No corte seguinte você já pede a maquininha, "e passa aqui dos lados também, por favor". Antes que você se dê conta, está na máquina 0.

Seus amigos começam a ficar preocupados. Você está experimentando muitas coisas novas - navalha, tintura, relaxamento. Talvez você devesse ir com calma. Mas eles estão só sendo neuróticos, você pode parar quando quiser.

Nesse ponto você já corta o cabelo em casa. Corta o cabelo em plena manhã de segunda-feira. Corta o cabelo mais rápido do que ele cresce.

Você inevitavelmente termina na sarjeta, careca, com feridas no couro cabeludo e incontáveis quilos perdidos - de cabelo, que fique claro.


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